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A Associação Latino Americana de Sociologia vem a público expressar sua profunda preocupação e seu repúdio a visíveis sinais, situações e atitudes de discriminação ideológica, relacionadas ao momento político brasileiro e ao nível de polarização encontrado no país. Professores e profissionais associados a perspectivas críticas vêm sendo acusados de “comunistas” e “socialistas”, como se esses rótulos representassem posições ilegais ou moralmente inadmissíveis em sociedades democráticas, pluriideológicas e pluripartidárias. Vários destes profissionais estão sendo perseguidos e, eventualmente, demitidos em instituições privadas, como testemunha o caso do Profº Paulo César Ramos, cientista social, mestre em Sociologia e doutorando em Sociologia pela USP, que foi recentemente demitido da escola em que trabalhava, sem explicações e sem justa causa, por pressão de pais de alunos.
Outro indício de que há uma ofensiva contra professores que buscam o caminho do esclarecimento e da reflexão é a recente pregação de ONGs e de políticos no sentido que os pais “defendam” seus filhos da “doutrinação” esquerdista, feminista, dos direitos humanos e do pluralismo religioso. Médicos deixam de atender crianças filhas de pessoas vinculadas ao partido político no governo, ações agressivas vêm ocorrendo nas redes sociais e figuras públicas e personalidades são hostilizadas por se encontrarem associadas à luta contra o impeachment da Presidente Dilma, independentemente de seu vínculo a qualquer partido ou ausência de vinculação partidária.
Nas últimas semanas viemos acompanhando a repercussão da Palestra proferida pela Dra. Rita Laura Segato no III Ciclo de Debates do Grupo Interdisciplinar de Pesquisas Feministas – GPFEM da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-MG, que tematizou o “feminismo descolonial”. Nos preocupa a forma como essas atividades, os temas, o Grupo, a Dra. Rita Laura Segatto, a coordenadora do GPFEM, Dra. Anete Roese, têm sido tratadas por parte de alguns grupos e setores conservadores da sociedade. Temos visto reações e manifestações com forte carga de violência, distorcendo tanto o conteúdo das atividades realizadas quanto o seu propósito, colocando em risco a liberdade de pensamento e a produção acadêmica que é própria do espaço universitário. Afirmamos a importância e o caráter imprescindível do trabalho desenvolvido pela instituição e pelo grupo, assim como em todos os espaços de debate e produção dos Estudos Feministas e de Gênero, particularmente quando são vítimas de processos inquisidores, o que por si só demonstra a sua relevância.
Como uma associação internacional de estudos sobre a sociedade, comprometida com os valores democráticos, a liberdade e a igualdade para todas e todos, a ALAS não pode furtar-se a chamar a atenção dos(as) cientistas sociais brasileiros(as) e latino-americanos(as) para o fato de que essas atitudes guardam relação não-acidental com um momento histórico cruel e obscuro da história recente da humanidade, que se expressou no nazi-fascismo, na perseguição política e social e no genocídio. Recomenda, portanto, que a sociedade brasileira atente para esses preocupantes indicativos e que as sociedades latino-americanas englobadas na jurisdição de nossa Associação expressem sua inequívoca solidariedade às pessoas que estão sendo alvo de intimidação, discriminação e perseguição em função de suas posições intelectuais críticas, de esquerda ou vinculadas aos movimentos sociais e populares em nossa região.
Representando o mandato da junta diretora que, reunida em Montevidéu, decidiu fazer este comunicado
Frente aos aspectos destrutivos, ambientais e sociais, que parecem marcar várias dimensões das relações societárias no sistema-mundo, tanto em países centrais como em países periféricos, a procura pela Filosofia e pela Sociologia é uma tendência crescente; é como se as pessoas buscassem orientação para fazer ou refazer laços sociais com significações mais humanitárias, justas e participativas. A busca de outros constituintes, subjetivos e societais, permeia a educação e as definições de práticas profissionais.
O Brasil e o Estado de Santa Catarina, com suas constituições históricas próprias, não estão fora desse reconhecimento. Talvez até mais acentuadamente, porque a democracia, cujas instituições têm sua representação social abalada pela violência e pela desigualdade distributiva, ainda é uma aprendizagem.
É exatamente neste ponto – aprendizagem – que a responsabilidade das gestões públicas com políticas educacionais que valorizem as humanidades, sem prejuízo das artes aplicadas, torna-se um fator mobilizador e ativo na formação de uma outra perspectiva cultural (filosófico, sociológico, político e profissional).
Em Santa Catarina, a decisão recente da obrigatoriedade das disciplinas de Filosofia e Sociologia no Ensino Médio, é a oportunidade para o desenvolvimento dessa vontade educacional. A presença dessas disciplinas, se melhor definida e ampliada, qualificará a intervenção. Isso se realizará com programas permanentes de capacitação dos professores, numa inter-relação com a participação criativa dos mesmos e melhoria das condições objetivas de trabalho.
Assim, a proposta aqui apresentada, caminha na direção de uma perspectiva nova, construída em conjunto com os professores que estão na prática do ensino dessas disciplinas na Rede Estadual de Ensino, com a UFSC e a Secretaria da Educação e Inovação, como uma política sustentável que considere o conjunto de pessoas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem. Além da UFSC, durante o processo de consolidação do Laboratório, a UDESC, bem como outras universidades do Estado que possuem cursos de graduação em ciências humanas deverão ser envolvidas.
A materialização da proposta é a criação do LABORATÓRIO INTERDISCIPLINAR DE ENSINO DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA (LEFIS).
Mais do que um espaço físico, é um espaço relacional para professores da universidade e do ensino médio, bem como alunos, em atividades de ensino, de formação, de promoção de eventos e elaboração pedagógica e didática. É um ponto de apoio, e de referência interdisciplinar, que poderá ter âmbito de ação estadualizado, a partir de Florianópolis. Servindo de base para uma mobilização pela valorização das humanidades. Com o LEFIS é possível vislumbrar um futuro promissor. Este abre a pespectiva de ser ampliado congregando, assim, outras disciplinas das ciências humanas, tais como: geografia, história, psicologia, antropologia, etc.
A sua potencialidade, enquanto um projeto piloto de Laboratório de Ensino, permitirá, também, que num futuro próximo, através de convênios com outras instituições, inclusive com o Governo Federal – uma prioridade estabelecida no convênio RMAV (Rede Metropolitana de Alta Velocidade), popularmente conhecida como Internet 2 -, o aumento da velocidade da rede de internet que viabilize, em tempo real, o acesso de vídeos que podem ser armazenados na Biblioteca Digital e disponibilizados em rede nas salas de aulas de todas as escolas do Estado.
Ressaltamos que a idéia desse Laboratório surgiu nas discussões e encaminhamentos tirados no I Seminário Regional de Sociologia no Ensino Médio, que contou com a participação de oitenta e seis professores da Grande Florianópolis. Este ocorreu no dia 06 de dezembro de 2003, numa promoção e realização do Laboratório de Sociologia do Trabalho (LASTRO) do Departamento de Sociologia e Ciência Política do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC.